Projeto de desenvolvimento sustentável de cultivo de macaúba foi tema de encontro entre grupo de pesquisadores da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) e do Instituto Fraunhofer, instituição alemã de pesquisa aplicada. A reunião no Instituto Agronômico (IAC) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo discutiu o sistema de cultivo de macaúba, a sustentabilidade da cadeia produtiva e o desenvolvimento de novas aplicações e produtos. Dentre outros aspectos da macaúba, é uma das plantas de maior potencial para produção de biodiesel, podendo render quase 26 vezes mais óleo do que a soja.

A pesquisa é focada na análise da variabilidade genética existente na espécie e seleção de matrizes para maior produção de óleo da polpa e da semente, nos diferentes ambientes onde pode ser naturalmente encontrada. O objetivo é desenvolver a cadeia produtiva e e novos produtos, além da agregação de valor.

O projeto foi aprovado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Governo Federal da Alemanha, por meio do Ministério da Ciência e Educação (BMBF). As atividades no âmbito deste projeto de cooperação internacional tiveram início neste ano e deverão ser finalizadas em 2019. O coordenador técnico do projeto e pesquisador do Instituto Fraunhofer, Alexandre Martins Moreira, informou que o encontro faz parte da dinâmica dos projetos da entidade.

“Por se tratar de projeto multidisciplinar que conta com mais de cinco parceiros na pesquisa, essa reunião é de grande importância para que os parceiros se familiarizem com as competências de cada membro”, afirmou o chefe de engenharia de processos do Instituto Fraunhofer, Peter Eisner.

Durante a reunião, Eisner falou sobre o potencial de aplicação de produtos da macaúba e apontou as possibilidades de uso da palmeira, que envolvem a produção de biocombustível, as indústrias farmoquímica e alimentícia, além da utilização das fibras da planta.

O engenheiro ressaltou que todo o processo deve ser desenvolvido de acordo com a legislação alemã de baixo impacto ambiental. Eisner apresentou empresas brasileiras e alemãs que têm parcerias com o Instituto Fraunhofer e que participarão do projeto.

Polpa

Pesquisa do IAC e do Polo Leste Paulista aponta que a produção de óleo da polpa pode chegar a três mil quilos por hectare, se consideradas 400 plantas por hectare, em um plantio comercial. Esse estudo é baseado em dados de centenas de plantas nativas, obtidos em diferentes localidades dos Estados de São Paulo e Minas Gerais. “O óleo da polpa tem 70% de ácido oleico em sua composição, o que o credencia para produção de biodiesel, enquanto o óleo da semente é rico em ácidos graxos de cadeia curta (com até 12 carbonos), o que lhe confere excelente qualidade para as indústrias alimentícia e de cosméticos”, diz o pesquisador do IAC Carlos Colombo.

De acordo com Colombo, comparando este resultado com a produção de outras espécies, como soja, girassol, mamona e dendê, estes geram, respectivamente, 420, 890, 1.320 e 3 mil quilos de óleo, por hectare. “Podemos inferir que a macaúba deverá produzir igual ou mais óleo do que o dendê, desde que tecnologias sejam incorporadas ao seu sistema de cultivo”, afirmou.

O pesquisador do IAC ressaltou o aumento do interesse da indústria e das pesquisas pela macaúba, a palmeira nativa de maior dispersão no território brasileiro. “Iniciamos as pesquisas há 10 anos, num momento em que outro grupo de pesquisa já trabalhava com esta palmeira no Brasil. Hoje, essa espécie atrai grande número de pesquisadores brasileiros, assim como da Costa Rica, Colômbia, México, Argentina, Paraguai e da Alemanha, em virtude das grandes possibilidades de uso energético e alimentício”, disse.

A palmeira ocorre naturalmente em diferentes ambientes. No Brasil ela pode ser encontrada nas regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste. Além dos aspectos industriais atrativos, o pesquisador do IAC destacou que a exploração comercial apresenta fatores que promovem a inclusão social com sustentabilidade. “É muito comum encontrarmos grandes maciços naturais da macaúba em áreas de pastagens. No Pontal do Paranapanema, região onde temos um dos maiores assentamentos rurais do Brasil, a macaúba ocorre em grande abundância, podendo ser explorada comercialmente para agregação de renda local, sem necessidade de intervenção na paisagem existente”, disse.

Outro aspecto lembrado pelo pesquisador é que a biomassa para produção de energia é uma das principais alternativas energéticas de países com a geografia e dimensão do Brasil. “O Plano Paulista de Energia (2012) oferece um conjunto de diretrizes e propostas de políticas públicas na área da energia e destaca a macaúba como opção de cultivo no Estado de São Paulo, com vistas à ocupação de áreas não adequadas para mecanização ou espaços subutilizados”, completa.

Para o secretário de Agricultura e Abastecimento, Arnaldo Jardim, o plantio da macaúba poderá representar, em futuro próximo, importante instrumento de desenvolvimento regional. “E isso não será apenas para o Estado de São Paulo, outras regiões poderão ser beneficiadas pela pesquisa paulista, como recomenda o governador Geraldo Alckmin”, diz.

Após o encontro, o grupo realizou uma excursão ao município de Itapira, onde visitou um campo de macaúba monitorado há cinco anos pelo IAC. Os integrantes puderam observar a diversidade genética das plantas expressadas na sua altura, número de cachos e características dos frutos.