A partir de gordura animal do peixe, produtores no município de Jaguaretama, a 248 quilômetros de Fortaleza, Vale do Jaguaribe, extraem o óleo a partir das vísceras dos peixes, que é vendido para a Usina da Petrobras, em Quixadá, onde é transformada em biodiesel. Cooperativa recebe incentivos do Governo do Ceará e chega a comercializar 45 toneladas de peixe com as cidades vizinhas.

Mesmo com a capacidade inferior a 20%, o Açude Castanhão tem sido mola propulsora na transformação da realidade de produtores do municípios de Jaguaretama. Para o produtor e cooperado Hernesto da Silva Goes, 38 anos, filho de agricultores, a extrema dificuldade ao lidar com o quinto ano consecutivo de seca, trouxe novos desafios e uma nova realidade produtiva, a extração de vísceras de peixe para transformação em biodiesel.

No Ceará, no município de Jaguaretama, Vale do Jaguaribe, a experiência com a produção de biodiesel a partir das vísceras de peixe tilápia tem se mostrado uma importante alternativa econômica. A transformação em biodiesel fica a cargo da Usina da Petrobras localizada na cidade de Quixadá, Sertão Central, que compra a produção dos cooperados daquele município.

É com esse foco e voltado principalmente para a melhoria da qualidade de vida do agricultor que a Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), através da Coordenadoria de Desenvolvimento da Agricultura Familiar (Codaf) e parceria da Secretaria da Pesca, tem buscado meios de trazer para o homem do campo tecnologias capazes de transformar, para melhor, a qualidade e produtividade desses produtores. “Esse apoio que a secretaria fornece aos psicultores, da região do Vale do Jaguaribe, é fundamental para fomentar não somente a economia local, mas também serve como incentivo à produção. Vale destacar que esse feito é contextualizado num cenário de estiagem que chega ao quinto ano consecutivo no Ceará”, comenta o secretário do Desenvolvimento Agrário, Dedé Teixeira.

“Quando um novo trabalho é proposto isso gera grande expectativa. A atividade pesqueira desenvolvida pela Secretaria de Agricultura, Pesca e Aquicultura (Seapa) em parceria com a SDA e técnicos tem mudado o cenário daquela região e isso é fruto de um acompanhamento e compromisso com os trabalhadores”, explica o coordenador de ordenamento e fiscalização da Seapa, Osvaldo da Costa Filho.

Organizados através da Cooperativa Curupati Peixes, cooperativa que atua no setor pesqueiro no município, 40 cooperados desenvolvem várias atividades desde o descarregamento até a retirada das vísceras. A cooperativa iniciou suas atividades contando apenas 10 produtores/cooperados e hoje garante renda para os trabalhadores e suas famílias, além de desempenhar papel fundamental na manutenção do meio ambiente, produzindo matéria-prima limpa.

Energia sustentável

A partir da extração das gorduras residuais do peixe, é garantida a produção do biodiesel. A prática resultou aos agricultores um convênio firmado com a Petrobras. Após coletados os resíduos, a gordura é encaminhada para a usina de processamento da estatal, localizada em Quixadá, onde é transformada em combustível.

Cooperativa

Quem vê a cooperativa Curupati Peixes funcionando e produzindo não sabe o quão árdua foi para chegar a esse rendimento. Há 12 anos, Hernesto da Silva Goes, antes de assumir a presidência da cooperativa, trabalhava no roçado com seu pai. Com o solo seco e pouco apoio, o agricultor cearense lembra de como era trabalhar em tempos onde o sol e os calos nas mãos reinavam. “Era uma vida sofrida. Trabalhávamos para nosso próprio sustento”, comenta. Após ter passado boa parte da sua infância e adolescência ajudando seu pai nas atividades campestres o piscicultor viu no quintal de casa não apenas o “gigante d’água” (açude Castanhão), mas também enxergou ali a possibilidade de vender peixes e vísceras para a produção de biodiesel. Aos poucos o empreendedor começou a escrever uma nova história, um novo começo não somente para a família, mas também para o município.