PARIS – Presidente da Frente Parlamentar Mista do Biodiesel (FrenteBio), o deputado federal Evandro Gussi (PV-SP) está participando da 21ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP21), em Paris. Segundo o parlamentar, a proposta brasileira tem sido elogiada dado o seu caráter concreto, como no caso do biodiesel.

Em entrevista à Ubrabio, Evandro Gussi conta que estão ocorrendo três eventos interessantes paralelamente. Um deles são os Diálogos sobre a COP21, na Embaixada do Brasil, que tem reunido autoridades e intelectuais. Em duas oportunidades, o presidente da FrenteBio pôde manifestar as vantagens do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), como resposta concreta à redução das emissões de gases de efeito estufa, aliada a ganhos econômicos para a agricultura e inclusão social via agricultura familiar.

“Sinceramente, muitas autoridades brasileiras que não conheciam bem o programa estão surpresas com o seu potencial”, relatou Gussi.

O parlamentar também destacou a reunião do GLOBE, instituição que busca reunir parlamentares com o objetivo de implementação das medidas propostas na conferência, que reúne 67 países na Assembleia Nacional Francesa e uma reunião parlamentar bilateral com membros do Parlamento Europeu prevista para a próxima quinta-feira (10).

“Tem sido bastante intenso e produtivo, especialmente por uma sensação de que, para além da efetivação de um acordo multilateral, ficará o compromisso de os países adotarem medidas apresentadas internamente”, resume.

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Confira abaixo a entrevista concedida à Ubrabio:

UBRABIO – Como tem sido a recepção à proposta brasileira para redução das emissões de gases de efeito estufa?

EVANDRO GUSSI – O Brasil tem sido muito citado mesmo em eventos em que não há autoridades brasileiras na mesa de discussão ou lugares em que o Brasil não é o tema, dado que, hoje, é reconhecido o nosso grande potencial de contribuição, sobretudo, para uma matriz energética diversificada e extremamente baseada em fontes renováveis.

UBRABIO – O que tem dado destaque para a iNDC brasileira?

E.G – Uma coisa importante é que o Brasil apresentou uma proposta muito concreta. A iNDC brasileira foi bastante objetiva trazendo inclusive uma proposta de aumento de biodiesel sobre o diesel fóssil. Isso tem sido muito elogiado por aqui, o fato de o Brasil ter colocado metas palpáveis e não simplesmente intenções mais vagas, mais abertas.

UBRABIO – Qual é a percepção que se tem em torno do aumento da produção e consumo de biocombustíveis, em especial, do biodiesel?

E.G. – Um ponto relevante, na minha opinião, é que parece que há hoje uma percepção ampla de que a produção de biocombustíveis, no caso especial do biodiesel, no Brasil, não apresenta nenhum risco para a segurança alimentar. Esse era um entrave nas discussões ambientais, porque se afirmava que a produção de biocombustíveis poderia concorrer com a produção de alimentos, e hoje se percebe que é o contrário. Dada a extensão territorial do Brasil, a qualidade da nossa terra, a exposição solar, e a água disponível, a produção de biodiesel no Brasil colabora com a produção de alimentos, já que o óleo extraído para a produção do combustível é um subproduto da extração de farelo protéico.

UBRABIO – Ao longo de suas participações em diálogos e apresentações sobre o PNPB na COP21, como tem sido a recepção?

E.G – O governo brasileiro tem promovido aqui na embaixada do Brasil alguns diálogos sobre a COP21, trazendo especialistas, inclusive do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) e isso tem sido bastante produtivo. Em duas oportunidades em que isso aconteceu, eu pedi a palavra e coloquei o tema do biodiesel, colocando que o Brasil, ao lado de medidas que começam com não (no sentido de não desmatar, não gerar mais emissões, e assim por diante) apresentou propostas positivas, ou seja, aumentar a participação das fontes renováveis na sua matriz energética, especialmente com o biodiesel. Também consegui apresentar a um grupo de senadores franceses, e vamos fazer isso também com um grupo do Parlamento Europeu, a questão que tem sido muito bem aceita sobre a agregação de valor. O biodiesel agrega valor aos produtos agrícolas, inclui a agricultura familiar, além da grande contribuição para a redução das emissões de gases causadores de efeito estufa. Nós também estamos acompanhando um evento do GLOBE, uma organização que reúne parlamentares de todo o mundo, com mais de 67 países representados, e no contato que tenho tido com os representantes desses países é impressionante a reação que eles tem quando falamos sobre o PNPB. É claro que tem biodiesel aqui na Europa, mas quando mostramos nosso potencial, nossa capacidade produtiva e quanto ainda podemos crescer, sempre é algo que impressiona a todos.

UBRABIO – A Frente Parlamentar Mista do Biodiesel participou das conversas com o governo para incluir o biodiesel na iNDC. Como foi essa articulação?

E.G – Foi um trabalho conjunto. Eu quero elogiar a atuação da Ubrabio que contribuiu de maneira determinante para que isso acontecesse. Nós precisamos também reconhecer o importante trabalho da ministra Izabella Teixeira. A Frente Parlamentar esteve com a ministra [do Meio Ambiente] Izabella mostrando a importância de que este tema estivesse na iNDC brasileira e fomos acolhidos. Então é um daqueles casos em que quando as associações, a frente parlamentar, o ministério, o poder legislativo, o executivo e a iniciativa privada trabalham em conjunto as coisas tendem a acontecer e esse é um grande exemplo. E o Brasil tem sido muito elogiado por apresentar uma iNDC com pontos concretos, como o nosso ponto específico do aumento da mistura de biodiesel.

UBRABIO – O projeto de Lei aprovado em novembro no Senado, que será analisado agora pela Câmara dos Deputados, traçando um cronograma para o aumento da mistura de biodiesel no Brasil é uma forma de efetivar essa proposta que o país apresenta à COP21?

E.G – Ele é uma resposta tangível à proposta brasileira. Ou seja, o Brasil que apresenta uma proposta clara de redução de emissões a partir do aumento da mistura de biodiesel está fazendo sua lição de casa e é uma coisa que nós temos inclusive deixado claro aqui, que não é simplesmente uma proposta de marketing. É uma proposta efetiva, uma vez que o Brasil internamente está aprovando medidas, já aprovou no Senado e, o quanto antes, queremos aprovar na Câmara dos Deputados o projeto que eleva a mistura nos próximos doze meses de carência para 8% e depois em 1% ao ano até chegar a 10%.

UBRABIO – Pode-se dizer que a tendência é essa? Cada vez mais combustíveis renováveis?

E.G – Isso ninguém mais tem dúvida. É importante nós sabermos que o caminho dos biocombustíveis, em especial o do biodiesel, é um caminho sem volta. É um caminho que só pode ir para o crescimento, para o aumento da mistura, para pensarmos um futuro atendendo mercados estrangeiros, esse será o caminho do biodiesel.

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