Da domesticação até o uso do óleo e da torta. As pesquisas que seguem essas linhas de atuação foram colocadas em debate entre o grupo de cientistas da Embrapa que desenvolvem trabalhos com pinhão-manso há cinco anos. Durante dois dias, foram apresentados os resultados alcançados ao longo desses anos de pesquisa com a cultura, dentro do projeto “Pesquisa, desenvolvimento e inovação em inovação em pinhão-manso para produção de biodiesel” (BRJATROPHA), liderado pela Embrapa Agroenergia, com recursos da Agência Brasileira de Inovação (Finep/MCTI).

Os resultados apresentados foram muito satisfatórios, principalmente quanto ao grande volume de informações que foram obtidos sobre o pinhão-manso nos últimos anos. “Há sete anos, não sabíamos praticamente nada sobre o pinhão-manso e, hoje, graças ao trabalho da rede de pesquisa do projeto BRJATROPHA temos toda uma base de conhecimento desenvolvida”, comentou o coordenador do projeto, Bruno Laviola.

A seleção de genótipos promissores no banco de germoplasma pode ser considerado um dos principais avanços do projeto. No quinto ano de avaliação, a média registrada de todas as plantas foi de 1.700 kg/ha de grãos, porém, selecionados os melhores materiais genéticos, pode-se produzir entre 3.500 e 4.200 kg/ha de grãos. A expectativa é que, em uma próxima fase, produtividades acima das verificadas poderão ser obtida com o cruzamento dos melhores genótipos.

Outros resultados que chamaram a atenção, salientou Laviola, foram os obtidos para a prática de manejo na produção de pinhão-manso, como o sistema de produção de mudas, os espaçamentos, os consórcios, as podas, a aplicação de fertilizantes e o uso de reguladores de crescimento. No aspecto fitossanitário, muitos dos problemas já foram resolvidos, com a identificação das principais pragas e os métodos de controle. No âmbito da colheita de frutos, resultados de pesquisa utilizando a semimecanização mostraram que os custos podem ser reduzidos em até 30 %, o que contribui de forma importante para equalizar os custos de produção.

No que se refere ao aproveitamento de coprodutos e resíduos da cultura, foram apresentados resultados da destoxificação da torta de pinhão-manso por processos físico-químicos e biológicos e por meio da exploração da variabilidade genética para ausência de toxidez (genótipos de origem mexicana que indígenas usam na alimentação). Bruno Laviola salienta que a torta do genótipo atóxico foi testada em substituição do farelo de soja para carneiros e os resultados foram bastante positivos no que se refere a saúde e ganho de peso dos animais. Como fertilizante, caracterizações químicas têm mostrado que a torta se apresenta como um excelente adubo orgânico. Estudos iniciais têm revelado que os ésteres de forbol são degradados entre 15 a 25 dias nos solos. Resultados interessantes também foram obtidos quanto ao uso da casca do fruto na produção de briquetes, cujo aproveitamento poderá agregar valor à matéria-prima, além de permitir produção de energia. Essas e outras pesquisas com destoxificação da torta de pinhão-manso podem ser conhecidas na 6ª edição da Agroenergia em Revista com este tema.

Os desafios futuros
Apesar dos grandes avanços neste primeiro ciclo de pesquisa, Laviola salienta que as análises de custo de produção indicam que ainda existem desafios para viabilizar o pinhão-manso. A busca por estratégias de maior valorização dos produtos e coprodutos da cadeia torna-se importante para garantir um maior preço pago ao produtor. Neste sentido, intercalar outras culturas no primeiro ano ajudam a diminuir o custo de implantação e valorizar a rentabilidade da produção na fase jovem das plantas.

“A produtividade é outra questão importante”, destaca Laviola. Apesar de terem sido encontrados genótipos com produção superior a 4.000 kg/ha de grãos, acredita-se que seja importante obter por meio do melhoramento variedades que possam produzir entre 5.000 a 7.000 kg/ha de grãos para garantir remuneração aos produtores. De acordo com ele, outro ponto apresentado na reunião foi a importância do aumento da eficiência no uso da mão de obra com olhar para o sistema de produção, principalmente no que se refere à colheita de frutos. Neste caso, reforça Laviola, para diminuir o custo de produção, deve-se buscar mecanizar ou semimecanizar a maior parte dos tratos culturais do pinhão-manso. No início, abrimos as ações de pesquisa para obter o máximo de informações possível e, agora, precisamos focar em pontos chaves para resolver os problemas que restam para viabilizar o pinhão-manso”, completou Laviola.

Os resultados e ações futuras foram apresentados , nos dias 19 e 20 de novembro, por pesquisadores de unidades Embrapa (Embrapa Agroenergia, Agropecuária Oeste, Cerrados, Clima Temperado, Meio Norte, Rondônia, Semiárido, Solos e Agroindústria de Alimentos). Também fazem parte do BRJATROPHA cientistas da Universidade Federal do Paraná – UFPR, Universidade Federal do Tocantins – UFT, Universidade de Brasília – UnB, Universidade de São Paulo – USP, Universidade Estadual do Norte Fluminense – UENF.