O I Congresso Brasileiro de Macaúba foi o primeiro grande evento científico no Brasil que reuniu pesquisadores, representantes do governo e da cadeia produtiva para debater especificamente os rumos dessa cultura. O encontro, que aconteceu de 19 a 21 de novembro, em Patos de Minas/Mxe algumas boas notícias. De acordo com a pesquisadora da Embrapa Agroenergia Simone Palma Favaro, coordenadora científica do evento, os debates mostraram que as pesquisas estão bem à frente do que se imaginava, especialmente no que diz respeito a genética e sistemas de produção.

Estudos apresentados indicam que a produtividade da palmeira, que é nativa da América do Sul, pode superar as expectativas. O consenso era de que seria possível obter cerca de 4 toneladas de óleo da polpa de macaúba por hectare cultivado. No entanto, avaliações de maciços nativos apresentadas no Congresso apontam potencial de rendimento superior a 10 toneladas por hectare, com base nas plantas mais produtivas. Com isso, é possível esperar rendimento médio ao redor de 6 toneladas por hectare, se utilizadas sementes dessas árvores em plantios comerciais.

Estima-se que, por algum tempo, a exploração da cultura ainda vai permanecer extrativista, mas a tendência é que caminhe para a produção sistematizada para atender ao mercado. O mesmo deve acontecer no Paraguai, país que mais se destaca na exploração da macaúba. Pesquisadores paraguaios que participaram do Congresso afirmaram que, se não houver a migração do extrativismo para os plantios comerciais, haverá declínio da produção no país vizinho. Isso porque, cada vez mais, o mercado exige processamento em grande escala, o que é inviável contando apenas com maciços nativos.

Integração

De acordo com Simone, os estudos estão mostrando que o ideal é a produção da macaúba em sistemas de Integração Lavoura – Pecuária – Floresta (iLPF), nos quais ela seja o componente arbóreo. A palmeira gera pouco sombreamento, o que permite a passagem de luz e, consequentemente, o desenvolvimento concomitante de outras plantas nas entrelinhas. O arranjo produtivo pode envolver culturas intercalares anuais, perenes e forrageiras para a integração com a pecuária. O sombreamento promovido pela macaúba pode contribuir também para o conforto térmico dos animais, melhorando seu desempenho. “Nós não imaginamos a macaúba tirando espaço de outras culturas”, enfatiza Simone.

Contudo, ainda há entraves para o desenvolvimento efetivo da macaúba. Do ponto de vista técnico, soluções são necessárias para melhorar as etapas de colheita, pós-colheita e processamento. “Só com processos de colheita e pós-colheita eficientes conseguimos obter óleos de qualidade, com baixa acidez, ideais para a fabricação de biodiesel, por exemplo”, explica a pesquisadora. Mesmo no Paraguai, com larga tradição na exploração da macaúba – que por lá é chamada de coco –, a tecnologia para o processamento ainda está muito aquém das utilizadas com outras oleaginosas.

No Brasil, além dos desafios tecnológicos, existem questões relacionadas à legislação ambiental a serem respondidas. Há ainda muitas dúvidas quanto ao uso da palmeira para recomposição de áreas de preservação e, principalmente, sobre a exploração extrativista nesses locais. Da mesma forma, discussões intensas foram registradas no Congresso a respeito das normas para acesso ao patrimônio genético nacional, uma vez que a macaúba é uma espécie nativa.

Setor privado Empresas presentes no evento mostraram-se entusiasmadas com a cultura, particularmente com o potencial de uso energético dos óleos e coprodutos. Usinas produtoras de biodiesel já estão utilizando o óleo da macaúba adquirida de agricultores familiares utilizando o mecanismo do Selo Combustível Social.
Uma iniciativa que chamou atenção foi a do grupo Votorantim, que, há dois anos, iniciou o cultivo da palmeira em uma área entre os municípios mineiros de Vazante e João Pinheiro. O objetivo é aproveitar o óleo para produzir biodiesel e consumi-lo na própria fazenda, onde a principal atividade econômica é o plantio de eucalipto para produção de carvão. A ideia é diversificar também a fonte de biomassa, e assim, produzir carvão a partir do endocarpo de macaúba, o qual apresenta qualidade superior à da madeira de eucalipto para a fabricação desse produto.

Até o momento, 650 hectares foram cultivados, mas a intenção é chegar a 1.000 até o final deste ano. A pesquisadora Simone Favaro conheceu visitou o projeto e conta que os plantios estão sendo feito nas bordaduras das áreas de preservação, formando zonas de transição entre a mata e as florestas de eucalipto, além de áreas de cultivo extensivo. Uma característica de destaque é que o plantio das mudas é feito por mulheres. Simone explica que elas têm mais cuidado na manipulação das mudas, o que se reflete na produtividade da planta adulta.

Interesse estrangeiro

O Congresso mostrou que estudantes africanos estão participando de estudos com macaúba em universidades brasileiras. Com muitos países localizados na faixa tropical, assim como o Brasil, existe o potencial de a África cultivar a palmeira, desenvolvendo a agricultura local.

Por outro lado, ficou registrada também a presença de instituições de países desenvolvidos no Brasil, interessados principalmente em utilizar o óleo como matéria-prima para suas indústrias. É o caso da parceria firmada entre a empresa Paradigma e a Universidade de Leuphana, da Alemanha. Com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), essas empresas estão investindo na macaúba com foco principal na extração do óleo da amêndoa para produção de bioquerosene de aviação na Alemanha.

Coordenadora científica do congresso, Simone considerou de alto nível os trabalhos apresentados. Eles envolveram grupos de pesquisa do Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, além do Paraguai e Alemanha. Como produto do Congresso está sendo elaborado um documento pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), em colaboração com participantes, com o objetivo de nortear políticas públicas para a consolidação da cadeia produtiva da macaúba.

O evento foi promovido pelo MAPA, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA, Embrapa Agroenergia, Embrapa Cerrados, Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento – SEAPA-MG e Centro Universitário de Patos de Minas – UNIPAM.