Simplificação e concentração dos serviços do governo nos portos foi uma das sugestões

Entidades ligadas ao setor produtivo encaminharam sugestões de ações emergenciais que podem reduzir os problemas de logística no país ao Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Um dos pedidos é que os serviços do governo para a verificação de mercadorias nos portos passe a funcionar 24 horas por dia, inclusive nos fins de semana. Essa medida já vem sendo tomada em caráter experimental nos terminais de Santos, Rio de Janeiro e Vitória. No final desta semana, o sistema será estendido aos portos de Paranaguá, Suape, Rio Grande, Itajaí e Fortaleza.

A Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) sugere que os serviços do governo que funcionam nos portos – Receita Federal, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e fiscalização agropecuária – se concentrem no mesmo lugar e que o horário de funcionamento passe a ser de 24 horas por dia, sete dias por semana.

– A burocracia operacional dos portos, além de só rodar oito horas por dia, não roda no fim de semana. São pelo menos três entidades federais que tratam dos assuntos. Isso poderia ser simplificado. Somente com isso, nós ganharíamos de 10% a 15% de agilidade e velocidade operacional nos portos – diz Márcio Lopes de Freitas, presidente da OCB.

O ministro da Agricultura, Antônio Andrade, irá encaminhar as sugestões ao grupo interministerial que discute formas de reduzir os problemas de logística no país.

Outro ponto defendido pela OCB, também encaminhado ao governo, é de que haja cobertura nos terminais graneleiros para evitar que os carregamentos de grãos sejam suspensos em função da chuva. De janeiro a março, o porto de Paranaguá, no Paraná, fechou por 35 dias por causa do mau tempo.

– Se tivéssemos o mínimo de cobertura ou uma autorização para fazermos um processo de cobertura dos navios, ganharíamos esses 35 dias de embarque. Isso já agilizaria, e muito, os processos de escoamento da safra – diz Freitas.

Para o secretário de política agrícola da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Antoninho Rovaris, não há planejamento concreto para escoar a demanda.

– A morosidade com que isso acontece é o que leva aos gargalos que hoje estamos enfrentando – acrescentou Rovaris, que pediu ainda maiores investimentos em portos e ferrovias e a busca pela regionalização no Nordeste e no Norte.

As dificuldades enfrentadas pelos produtores brasileiros tornam outros países mais competitivos para exportar.

– Nós temos um estudo na Associação Nacional de Exportadores de Cereais (Anec) que mostra que, hoje, para um produtor rural sair da porteira de sua fazenda e chegar a um porto de exportação gasta em torno de quatro vezes mais do que gasta um produtor argentino, ou um produtor norte-americano. Isso significa um verdadeiro ralo de desperdício que prejudica a renda e a capacidade de financiamento dos nossos produtores – disse Luiz Antônio Fayet, consultor da Confederação Nacional da Agricultura (CNA).

O governo analisa a criação de um plano de logística, mas ainda não há previsão de quando será anunciado.

– Em 2007, a CNA já anunciava que, se nós não tomássemos medidas urgentes naquela época, teríamos um apagão portuário para o agronegócio, como o de hoje. E isso não só para os grãos, mas também para um grupo de produtos de alto valor agregado, como é o caso das carnes. Talvez o ponto mais crítico do Sul e Sudeste do Brasil seja a questão dos contêineres e a questão de grão in natura instalada no arco-norte. Mas o apagão portuário é um fator brutal de perda de renda dos produtores rurais – concluiu Fayet.

Fonte: Canal Rural